Autor: Plínio Camillo
Aos três anos descobriu que as letras tinham significados. Aos cinco, a interrogação. Aos nove, não era sintético. Aos doze, quis ser metonímia. Aos quinze, conquistou a exclamação. Aos dezessete, viu os morfemas. Aos dezoito, foi liberado do tiro de guerra, virou perifrase. Aos vinte, estava no palco. Aos vinte e dois, se enxergou como um advérbio. Aos vinte e cinco, desenredou a Lingüística. Aos vinte e sete, redescobriu o eufemismo. Aos trinta, a e a onomatopeia. Aos trinta e dois, melhorou a minha caligrafia. Aos trinta e cinco, recebeu o maior presente: aquela que lhe trouxe a felicidade. Aos trinta e seis, não morreu como ameaçava o anacoluto. Aos quarenta, desvendou uma ligeira maturidade e ironia. Aos quarenta e cinco, recebeu o prazer de viver no adjunto adverbial de companhia. Aos quarenta e sete abreviou o seu discurso. Aos cinqüenta, toma remédio para pressão e usa óculos até para atender telefone. Hoje com se diverte cometendo escritos.